Não sei onde estou agora, onde o meu corpo se abandona: na estação ou no trem. Não sei se me interessa o movimento visto sempre do mesmo ponto, do mesmo banco em que me ponho, ou se prefiro as paisagens que avançam, se transformam e me levam a lugares estranhos. Não sei o que será. Do trem ou da estação, minha perspectiva é a de um ser pequeno. Passam por mim outras pessoas, muitas pessoas sem rosto, e tudo segue. E as leis a regular o tempo, os gestos, os trapos, o medo silencioso da maioria. Do outro lado, os donos de tudo, com seus governos e sua riqueza feita de usura, cheios de dedos, dentes e olhos por onde escorre o sangue dos mortos. Respiro, parado. Minha vida é trem e estação.

 

Mário Montanha Teixeira Filho é consultor jurídico aposentado.