Duas amigas estão dentro de um restaurante, conversando.
“Você acredita que na mesma hora que pensei em pedir demissão, pousou um pombo na minha janela? E adivinha o que ele fez. Saiu voando! Claramente foi um sinal”.
“Sinal de quê, Tamires? Você mora em Copacabana. Maior concentração de pombo por metro quadrado do Rio”.
“É óbvio que o universo está conspirando. O voo do pássaro é o voo que eu preciso dar agora. Aliás, que mensagem veio no teu biscoito da sorte”?
“’A vida trará coisas boas se tiveres paciência’. E no teu”?
“’O universo não tem nada a ver com isso. Era apenas um pombo de passagem na hora’”.
“Cacete, isso foi muito específico. Que coisa bizarra”!
“Porque você não ouviu o resto da história. Minutos depois, recebo uma ligação do meu banco, oferecendo um empréstimo. Você sabe que eu não acredito em coincidência. É a chance que eu precisava para abrir meu café em Porto de Galinhas”.
A conversa é interrompida por um cliente do restaurante, perguntando se poderia levar uma cadeira vaga da mesa. A camiseta dele é estampada com a seguinte frase: “DESISTE DESSA IDEIA, TAMIRES!”.
“Legal, também me chamo Tamires. Pode levar a cadeira”.
“Ah, mas agora você passou a acreditar em coincidência?”!
“Tamires é um nome super comum nessa cidade imensa”.
“Que loucura. Parece que o universo está mesmo te mandando uma mensagem”!
“Virou esotérica agora? Nunca foi disso. Bom, procurei na internet e já achei até o ponto. Meio acabadinho, mas se eu fizer uma reforma…”.
Um clarão interrompe a conversa. Surge diante delas uma Tamires do futuro, suja, armada, e com figurino distópico.
“Tamires, eu vim do futuro para te dizer que o café que a gente abriu em Porto de Galinhas fica em cima de um cemitério caiçara, de uma aldeia dizimada durante a colonização, e a obra desencadeou uma catástrofe que pode levar à extinção da espécie humana. Eu não posso ficar aqui, eles precisam de mim na guerra. Mas você pode impedir tudo isso”.
Tamires do futuro desaparece, Tamires do presente folheia o cardápio, sem dar a mínima para o que aconteceu.
“Coitada. Deve ser droga, sabia. Amiga, você está pálida. Vamos pedir. Deixa eu ver qual o prato do dia. Meu Deus. Surreal. Olha isso. Frango xadrez! Frango. Galinha. Porto de Galinhas. É o destino, cara”!