Prédio histórico: Sociedade Treze de Maio é símbolo importante da história da comunidade negra em Curitiba (foto: reprodução)
Um acordo entre as partes evitou que o prédio histórico da Sociedade Treze de Maio, um dos símbolos mais importantes da história da comunidade negra em Curitiba, vá a leilão. O acordo foi possível graças a uma vaquinha iniciada por organizações ligadas ao movimento negro. Até o final do dia 23 de novembro, já haviam sido arrecadados R$ 64 mil, o que equivale a mais de 71% dos R$ 87 mil da dívida que levaria o prédio a leilão.
O leilão do prédio da Treze de Maio, na Desembargador Clotário Portugal, veio à tona numa reportagem do site Diário de Curitiba. O prédio foi avaliado por pouco mais de R$ 1 milhão, e seria vendido já no dia 27 de novembro. Diante dessa ameaça, a vaquinha e as doações apareceram rapidamente, até que um acordo foi fechado entre as partes. O credor aceitou receber o valor integral da vaquinha e, caso isso não seja suficiente para cobrir os R$ 87 mil, o restante poderá ser pago em prestações mensais de R$ 2 mil. Em seguida, o acordo foi homologado pela juíza responsável pelo caso e o leilão, oficialmente cancelado. Ainda é possível fazer doações online (endereço: https://tipa.ai/soc13demaio?fbclid=PAAaY-vWmoGzuKeNNxo16DwrWWw2LbzvUlcxywlktmAgrgDbcyxiuUzfODn2A).
Sociedade Treze de Maio – A sociedade foi fundada por um grupo de negros livres um mês depois de a princesa Izabel assinar a lei que libertou definitivamente os escravos do país. Era junho de 1888, e os fundadores do local queriam eternizar a data da Lei Áurea no nome do clube em que passariam a se reunir, agora como homens livres. Hilário Munhoz, Benedito Modesto da Rosa, Candido Ozório, Manoel Pereira dos Santos, José Pinto da Rocha, Izidoro Mendes dos Santos e Norberto Garcia são os nomes dos fundadores, que, segundo conta a história, decidiram pela fundação quando estavam reunidos na casa de um homem chamado João da Fausta.
No começo, não havia sede, e as reuniões ocorriam na casa dos próprios fundadores. Em 1896, a Prefeitura de Curitiba doou o terreno onde fica a sede atual – na época, a rua se chamava Colombo. O prédio, porém, foi erguido apenas duas décadas depois, em 1913. A sede atual, em alvenaria, é da década de 1950.
Educação e direitos – Desde o começo, a sociedade se dedicava a dar aulas aos negros livres e a alfabetizá-los. Também lutava por direitos para a comunidade negra, e se transformou no mais importante local de articulação dos negros em Curitiba. O exercício da cidadania também sempre foi um ponto importante da Treze. Desde 1888, os presidentes foram escolhidos pelo voto dos sócios. E as mulheres, excluídas na sociedade em geral, tinham voz ativa na administração.
Em 2001, a Prefeitura de Curitiba tornou o prédio uma Unidade de Interesse de Preservação. No entanto, isso não impede que a sede seja retirada das mãos dos negros herdeiros da tradição e entregue a terceiros.