Como frequentador costumeiro do Rio Grande do Sul e admirador de sua terra e de sua gente, registro aqui a minha profunda tristeza com a tragédia que se abate, no momento, sobre o território gaúcho, e o meu apoio aos bravos irmãos do vizinho Estado. Do total de 497 municípios, 440 foram afetados, incluindo a Capital, edifícios públicos, escolas, hospitais, estádios, igrejas, indústrias, rodoviárias, ferroviárias e aeroportos, impactando cerca de 2 milhões de pessoas. Os números são aterradores: mais de 600 mil pessoas estão desalojadas, as mortes chegam a 147, os feridos a mais de 800 e os desaparecidos a 127.
A solidariedade e a ajuda têm chegado de todo o Brasil e até do exterior. Os governos – municipais, estadual e federal – até têm feito o possível, nas atuais circunstâncias, fornecendo pessoal, encontrando abrigos, transportando pessoas, reconstruindo pontes e estradas, oferecendo atendimento médico e alguma segurança. Os recursos, como de costume, são parcos e tropeçam na burocracia. O povo gaúcho é destemido por natureza, forte, batalhador, hospitaleiro, fraterno, cordial e afetuoso. Mas isso será o suficiente? Talvez não. Afinal, há um Estado a ser reconstruído. Mas é um começo. E do começo chega-se ao fim.
A vida é, por certo, cheia de riscos. Mas é preciso viver, aceitando os riscos que nos cercam. Rubem Alves chamava isso de coragem. Para ele, coragem não é a ausência de medo. É viver a despeito do medo. O povo gaúcho está assustado. O céu continua carregado, as chuvas continuam e o perigo aparece em cada esquina.
Muita gente perdeu tudo: casa, carro, móveis, roupas, utensílios, emprego, animais de estimação e boa parte da própria história. Mas não pode perder a esperança, a vontade de viver e de lutar. Perdida uma esperança – como também dizia o velho Rubem –, outra nasce em seu lugar. “Como capim que brota sob a primeira chuva, depois da devastação da queimada”.
Logo o sol nascerá de novo no Rio Grande do Sul. Para ficar.
Célio Heitor Guimarães é jornalista e consultor jurídico aposentado.