Paulo Motta: textos bem alinhados, com conteúdo e leitores fiés (Foto: Bebel Ritzmann | reprodução)
O mal de se viver muito tempo é ir-se perdendo no caminho parentes e amigos queridos. No dia 26 de abril (quarta-feira), perdemos Paulo Roberto Ferreira Motta, colega de profissão, colega de escrita, colega de Zé Beto, colega de ideais, amigo querido e uma das mais brilhantes inteligências que conheci. Não o sabia doente, embora o maldito cigarro que ele tanto cultuava me preocupasse. Certamente, foi o impiedoso vício que o levou, aliado a outros desgostos que carregava, como o ainda recente falecimento de sua querida e inesquecível companheira Raquel.
Paulo era gaúcho de Porto, como dizem os gaúchos, torcedor fanático do Sport Club Internacional. Pensei que tinha recebido o nome como homenagem ao craque do Colorado. Mas o homenageado fora outro Paulo Roberto, o Paulo Vecchio, que também passara pelo Internacional e depois viria o compor o elenco do Coxa do Alto da Glória. Quando a família transferiu-se para Curitiba, Paulo Motta ingressou na Faculdade de Direito da UFPR e na Procuradoria Geral do Estado. Depois foi chefe de gabinete do secretário da Cultura René Dotti, professor da Unicuritiba e passou a colecionar amigos e admiradores.
Quando o mestre Zé Beto ofereceu-lhe espaço no seu blog, Paulo revelou-se um brilhante historiador de personagens e acontecimentos, em textos bem alinhados, com conteúdo e leitores fiéis.
Juntos estivemos também no escritório de advocacia dos mestres Romeu Felipe Bacellar Filho e Renato Andrade.
Um dia, Paulo conheceu Raquel, uma bonita mineirinha de Uberaba, que participava em Curitiba de um congresso de Direito Administrativo, provavelmente organizado pelo professor Romeu. Encantaram-se um pelo outro, casaram e ganharam como filho Bruninho. Quando Raquel prematuramente nos deixou, vítima de insidiosa e fatal moléstia, Paulo perdeu o rumo, mas ancorou-se no pequeno Bruno e nas várias homenagens acadêmicas recebidas por Raquel, que se seguiram. Esteve presente em todas, aqui e no exterior. Agradeceu-as com coragem e muita saudade.
Na semana passada, correu o boato que Paulo Roberto não passava bem, que teria, possivelmente, de passar por uma cirurgia cardíaca. Confirmou-se a necessidade e Paulo, embora ainda relativamente jovem, não resistiu às consequências. Mudou de plano no início da noite de quarta-feira, entristecendo profundamente a todos os que o conheciam e queriam bem.
Restou-nos um consolo: ele foi, antes mesmo do que esperava, ao encontro de sua querida Raquel. Que Deus o tenha acolhido com um carinhoso abraço.
Célio Heitor Guimarães é jornalista e consultor jurídico aposentado.