O 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, é uma data que registra e homenageia a luta histórica das mulheres contra a opressão. Não é incomum que a origem da comemoração seja associada a greves ocorridas numa fábrica em Nova Iorque, em 1857, quando mais de cem trabalhadoras teriam morrido em decorrência de um incêndio provocado pela repressão a serviço dos patrões. A escolha de uma data para celebrar o papel da mulher na vida política em todo o mundo, porém, é anterior a esses acontecimentos, e se liga à luta pelo reconhecimento de direitos trabalhistas das mulheres, intensificada entre o final do século XIX e o início do século XX.

História de luta – Nas celebrações do Dia Internacional da Mulher, a Aconjur-PR vem, nos últimos cinco anos, destacando os aspectos históricos dessa luta (veja links no final desta reportagem). E, em 2021, presta homenagem a Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983), conhecida artisticamente por Ana Cristina Cesar ou Ana C. Ela foi um dos principais nomes da literatura marginal da década de 1970, estabelecendo uma linha de criação – com destaque na poesia – que trafega entre o ficcional e a autobriografia.

O tempo da ação – Ana Cristina se suicidou em 1983. No prefácio do livro que reúne sua obra (Poética, Companhia das Letras, 2013), Armando Freitas Filho, seu confidente e melhor amigo, escreveu: “Perto de completar trinta anos de vida, ela [Ana Cristina] pareceu sentir o mesmo que é expresso na frase em off na voz do próprio Godard, com a mesma idade, dizendo no começo do seu segundo longa-metragem, Le petit soldat: ‘O tempo da ação passou; começa o tempo da reflexão’”.

 

Ana Cristina Cesar: um dos principais nomes da literatura marginal dos anos 1970, escritora construiu uma obra poética que mistura ficção e autobiografia (foto: acervo IMS / reprodução)

 


flores do mais

ana cristina cesar

 

devagar escreva
uma primeira letra
escrava
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais