Luciano Bivar (ao lado de Bolsonaro): declaração ignorou barreiras impostas à participação de mulheres na política
Uma declaração do presidente do PSL, Luciano Bivar, no dia 10 de fevereiro, gerou controvérsias. Segundo o líder do partido de Jair Bolsonaro, as mulheres “não têm interesse ou vocação para a política”. A afirmação faz parte de entrevista publicada no jornal Folha de S. Paulo, que abordava, entre outros assuntos, o repasse de R$ 400 mil a uma candidata a deputada federal do PSL que obteve apenas 274 votos nas eleições de 2018. A candidata, Maria de Lourdes Paixão, recebeu a terceira maior fatia nacional da verba do PSL.
Acesse, aqui, matéria sobre a entrevista concedida pelo presidente do PSL.
Contestação e nota – O conteúdo preconceituoso da entrevista de Bivar foi contestado pela Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), que emitiu uma nota sobre a sub-representação feminina no País (confira abaixo).
Nota sobre a sub-representação feminina
Sobre as recentes declarações do Presidente do PSL [Luciano Bivar], que afirma que as mulheres não teriam interesse ou vocação para a política, cabe esclarecer que, ao menos desde os anos 1960, os estudos sobre mulheres e política demonstram que a sub-representação feminina é resultado de barreiras que impedem ou dificultam sua participação. Um dos momentos principais em que essas barreiras se impõem é justamente a construção das candidaturas junto aos partidos políticos.
No Brasil, a lei que garante 30% das candidaturas para um dos sexos na lista eleitoral partidária está embasada no reconhecimento de que a sub-representação das mulheres é uma injustiça. Elas são a maioria do eleitorado, mas têm sido deixadas de fora dos espaços em que são tomadas as decisões que as atingem diretamente. O Brasil é hoje um caso extremo, sendo um dos países do continente americano em que as mulheres têm menor acesso aos espaços decisórios, sejam eles cargos eletivos ou nomeações de primeiro escalão, como ministérios ou secretarias nos estados e municípios.
Só o preconceito, aliado à desinformação, explica que o presidente de um partido que tem hoje expressão nacional ignore que a sub-representação feminina nada tem a ver com disposições naturais, mas resulta de constrangimentos institucionais, sociais e culturais.