Em artigo publicado no blog do Zé Beto (17/6/21), o consultor jurídico aposentado Célio Heitor Guimarães faz uma análise crítica sobre os movimentos erráticos do atual presidente da República. Em tom de desabafo, ele observa: “No século passado, costumava-se contar ‘a última do papagaio’. Hoje, acorda-se indagando, com o coração na mão: ‘qual a última do Bolsonaro’”? E conclui: “Até quando seremos obrigados a suportar essa desgraça? Até as eleições de 2022?! Não sei se o Brasil aguentará…”. Confira, abaixo, a íntegra da coluna.

 


Deus e o diabo no país do mito

Célio Heitor Guimarães

 

Para você, estimado leitor, que contestou a minha crítica à realização da Copa América no Brasil, nesta época – sob o argumento de que já temos aqui, sem problemas, as eliminatórias da Copa do Mundo, o sul-americano, a Copa Brasil e o Brasileirão –, a resposta foi dada pelas seleções de Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia: treze integrantes da delegação venezuelana, sendo cinco jogadores, testaram positivo para a Covid-19; o mesmo aconteceu com as delegações da Colômbia, do Peru e da Bolívia, com 52 casos de contaminação, sendo 33 jogadores e 19 pessoas ligadas à organização do torneio. Estão todos confinados em hotéis de Brasília e do Rio de Janeiro.

Só não viu quem não quis. Nove seleções, mais a do Brasil, de dez países da América no Sul, cada uma com 65 pessoas, além de jornalistas, árbitros, radialistas, agregados e aficionados, reunidos em um país com quase 18 milhões de infectados pelo coronavírus, mais de 490 mil mortes, UTIs e enfermarias atulhadas de doentes, com carência de leitos, de vacinas, de medicamentos, de oxigênio e de atendentes, era só o que faltava! Com a intervenção do genocida de Brasília, não falta mais.

Colômbia, Argentina e outros países consultados não quiseram saber da nova e mortal aglomeração. O capitão-presidente, que não tem nada com isso, quis. Agora, é só levantar os braços para o Céu e pedir a Deus que nos ajude. Isso quem tem fé. Para quem não tem, só resta chorar.

No século passado, costumava-se contar “a última do papagaio”. Hoje, acorda-se indagando, com o coração na mão: “qual a última do Bolsonaro”? Todos os dias, ele tem uma nova ideia insana. Antes da decisão da Copa América, nomeou embaixador do Brasil na África do Sul um meliante processado e proibido pela Justiça de deixar o Brasil; depois, decidiu que quem já tomou a vacina ou já foi atingido pela Covid não precisa mais usar máscara em público. Esqueceu-se de que quem baixou essa determinação obrigatória foi ele próprio, com a chancela do Congresso Nacional. Então, para modificá-la teria de acionar antes, novamente, deputados e senadores. Mas para ele esse é apenas um detalhe insignificante. O que vale é a alucinada vontade imperial.

No sábado, teve uma ideia genial: mandou fechar o trânsito na Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, para liderar um bando de psicopatas, verdadeira horda de zumbis, em uma “motorreata” sem o menor cabimento. E teve doido que bateu palma… Para proteger a cambada, foram mobilizados 1.433 policiais, cinco aeronaves, 10 drones e 600 viaturas, sem contar os agentes da Polícia Federal, do GSI e da PRF, requisitados para garantir o sucesso do passeio presidencial. Custo total: 1,2 milhão – pagos pelos idiotas pagadores de impostos.

Até quando seremos obrigados a suportar essa desgraça? Até as eleições de 2022?! Não sei se o Brasil aguentará…

O indivíduo é contra a saúde, contra o ser humano, contra a educação, contra a cultura, contra a ciência, contra a segurança, contra a natureza, contra os povos indígenas, contra a vacina, contra a lei, contra as instituições, contra a razão e o bom senso. Não obstante, continua (des)governando o país, sob o olhar condescendente das Forças Armadas, cada vez mais desmoralizadas pelo ex-capitão enxotado da caserna por desobediência e indisciplina crônicas. E o pior, repito: continua solto, sem camisa de força e sem focinheira.

Mito, mito, mito! Que o Diabo o carregue enquanto ainda há tempo! E com ele os seus insanos seguidores.

 


Célio Heitor Guimarães é jornalista e consultor jurídico aposentado.