Protesto na Assembleia Legislativa: servidores ocuparam plenário na tentativa de abrir negociação salarial com governador do Estado

 

Passava um pouco das quatro da tarde [de 9/7] quando o deputado estadual Missionário Ricardo Arruda (PSL), que estava na tribuna discursando contra os grevistas, começou a projetar num telão dados sobre os salários do funcionalismo. A ideia dele era mostrar que, na verdade, os servidores [do Executivo], que enfrentam uma defasagem de 17% nos vencimentos, estão reclamando de barriga cheia.

Dado a polêmicas fáceis, o deputado talvez não esperasse a reação que se seguiu. Mais de mil pessoas que protestavam pacificamente do lado de fora da Assembleia, revoltadas com a retórica e as manobras contábeis do deputado, decidiram forçar passagem pela portaria da Assembleia, e em questão de um minuto estavam superlotando o prédio onde acontecia a sessão.

As galerias ficaram cheias, houve tumulto, correria e Ricardo Arruda fugiu às pressas do plenário. Chamado de “covarde” por um coro gigante, não voltou mais. A partir dali, quem dominou a cena foram os grevistas, que há duas semanas tentam negociar uma proposta de reposição com o governo.

A ocupação virou a nova arma de negociação dos servidores, que na semana passada já tinham dado um passo grande rumo ao Centro Cívico, instalando um acampamento em frente ao Palácio Iguaçu depois de uma passeata de 15 mil pessoas.

Depois de tomar a Assembleia, os funcionários disseram que só sairiam de lá com uma nova proposta do governo – e que teria de ser bem melhor do que a inicialmente apresentada, de parcelar apenas 5% da defasagem e, ainda por cima, em quatro anos.

O governo, que desde o começo subestimou a greve, não parecia contar com o novo movimento. Depois de fingir que o movimento não existia e de dizer que nem negociaria, a gestão de Ratinho Jr. (PSD) já teve de dar um passo atrás na semana passada. Fez uma proposta muito ruim e que ainda estava vinculada ao fim da licença prêmio. Mas, de certo modo, deu margem às negociações.

A situação lembra muito o modo como evoluíam as negociações entre o governo e os servidores na época de Beto Richa (PSDB). Em 2015, também num início de mandato, ocorreu uma outra ocupação da Assembleia e que terminou com o governo sendo obrigado a recuar com seu projeto – na época, o pacote de ajuste fiscal.

Ratinho não parece ter aprendido com o erro alheio. E agora está pagando o preço disso.