Seria impressão minha ou, de repente, um pé de alface passou a custar o equivalente a um almoço executivo? Não falo de qualquer alface, mas daquela humilde folha esverdeada, muitas vezes murcha, que jaz nas gôndolas dos supermercados sob uma etiqueta de preço que sugere que foi cultivada em Marte e transportada à Terra por um foguete de Elon Musk. O Brasil, conhecido celeiro do mundo, agora parece estar competindo para se tornar a butique alimentar do planeta. O arroz, grão singelo e aliado do feijão, foi promovido a casta superior, entre a trufa branca de Alba e o caviar beluga. A carne virou artigo de colecionador: um contrafilé hoje custa quase o mesmo que uma obra de arte contemporânea, com a diferença de que pelo menos a arte você pode revender depois.

Antes, ao entrarmos em um supermercado, a dúvida era entre comprar um vinho chileno ou um nacional, agora é entre levar um litro de leite ou hipotecar a casa. E como reagimos a essa tragédia culinária? Com silêncio resignado, enquanto a moça do caixa anuncia o total.

O governo, por seu lado, nos diz que são oscilações do mercado, um eufemismo para “você está sendo passado para trás e não há nada que possa fazer”. Resta-nos a adaptação. O café da manhã agora se resume a olhar para o pão e suspirar. O almoço é um exercício de criatividade: transformar um ovo e um punhado de arroz em algo que pareça comida de verdade. O jantar é um jogo de adivinhação – o que sobrou de ontem e pode ser requentado?

Produzimos alimentos para o mundo inteiro, mas estamos cada vez mais perto de viver praticando jejum intermitente não por escolha, mas por necessidade.

Bem-vindos ao Brasil, um país tão criativo que conseguiu a proeza de transformar até o ato de comer em privilégio.