“O melhor texto de publicidade que eu já vi era assim: uma foto colorida de uma garrafa de uísque Chivas Regal e, embaixo, uma única frase: ‘O Chivas Regal dos uísques’… Em algum anuário de propaganda, desses que a gente folheia nas agências em busca de ideias originais na esperança de que o cliente não tenha o mesmo anuário, deve aparecer o nome do autor do texto. No dia em que eu descobrir quem é, mando um telegrama com uma única palavra. Um palavrão. Que tanto pode expressar surpresa quanto admiração, inveja, submissão ou raiva… Duvido que o autor da frase receba o telegrama. O cara que escreveu um anúncio assim não recebe mais telegramas. Não atende mais nem a porta. Não se mexe da cadeira. Não lê mais nada, não vê televisão, não vai a cinema e fala somente o indispensável. Passa o dia sentado, de pernas cruzadas, com o olhar perdido. Alimenta-se de coisas vagamente brancas e bebe champanha brut em copos de tulipa. Com um leve sorriso nos cantos da boca.”
Essa é a abertura de uma crônica de Luis Fernando Verissimo chamada “A frase” (Amor Brasileiro, 1977) – ainda do tempo do telegrama, mas o personagem bem poderia ser Washington Olivetto.
Quando me formei jornalista, atuei como copydesk em jornais durante nove anos. Uma de minhas funções era enriquecer matérias com declarações de personalidades. Uma delas era Washington Olivetto, que sempre atendia a imprensa e falava sobre qualquer tema.
Numas férias, levei esposa e o filho bebê para Petrópolis. Com um salário de 1000 cruzeiros, acabamos num hotel bem modesto. Na primeira manhã, Leonardo berrava no banheiro, e a mãe reclamava: “Você nos traz para um lugar que nem água quente tem!”. A fala me abalou. Desci ao lobby, acendi um cigarro e abri a Gazeta de Petrópolis. Lá estava uma entrevista com Washington Olivetto, falando sobre a abertura de sua agência W-GGK e como passou as últimas férias em Paris, no mesmo quarto onde viveu Oscar Wilde. E eu, naquela água fria de Petrópolis…
Ao voltar ao jornal, liguei para ele: “Aqui é o Castelo e o assunto de hoje é emprego”. Ele respondeu: “Estamos numa recessão e…” .Expliquei melhor: “O assunto é o MEU emprego em publicidade”. Surpreso, ele me recebeu no dia seguinte. Disse-lhe que não tinha portfólio, apenas os discos do meu grupo, o Língua de Trapo, e as crônicas do Estadão. Ele reconheceu meu trabalho: “Você escreve de sexta, né? Eu leio! E, olha, eu não conseguiria redigir um texto desse tamanho com tanto humor e graça”.
Logo após, me indicou ao Clóvis Calia, diretor de criação da Ogilvy. Clóvis disse: “Sendo indicação do Washington, nem precisa mostrar nada. Quer vir? Vamos ver o salário.” Pedi que fizesse uma oferta (os 1000 cruzeiros não me saíam da cabeça). Ele ofereceu 4.500 cruzeiros. Propus: “Podemos fechar em 5.000? Tenho superstição com números quebrados”. Ele aceitou, mas avisou que eu teria que começar logo. Respondi: “Começo amanhã”.
Um ano depois, ganhei dois Leões em Cannes — ouro e bronze — com os filmes “Latas” e “Rodeio”, para a cola Araldite. Após as premiações, disse à esposa: “Daqui uns dias vamos de férias para um lugar friozinho, prepare a mala”. Fomos a Paris, onde nos hospedamos no mesmo quarto onde viveu Oscar Wilde.