Expresso minha tristeza e meus sentimentos pela partida de meu querido amigo, o jornalista Luiz Geraldo Mazza. Desde o final da década de 1960, fui seu atento leitor, ouvinte e telespectador. Admirei muito sua verve, cultura, capacidade analítica e raciocínio ágil em interpretar os acontecimentos e defender o estado pleno de direito. Tinha uma capacidade de expressão incomum, tanto na escrita como na fala. Para mim, uma referência.

Foi um grande memorialista da política paranaense, que testemunhou por quase um século, sem nunca abandonar a visão crítica e muitas vezes ácida. Deixou sua marca fecunda e irrequieta nas redações de todos os veículos de comunicação do Paraná onde, concentrado, batucava como metralhadoras as teclas das antigas máquinas Olivetti ou Remington. Quando não estava circulando entre as mesas, fazendo suas performances como agitador cultural de espírito irrequieto.

Criou sua persona bem humorada, brincando sempre com a semelhança que achava com o cantor Charles Aznavour. E sempre foi um bom companheiro de mesas de bares e restaurantes, como o Stuart , o Palácio e o Maneco, e ouvinte atencioso também nas feijoadas do Bife Sujo. Como o mais destacado jornalista do Paraná, sabia ser sarcástico criando motes e dando apelidos divertidos para políticos e pessoas da vida pública, fiel aos costumes de sua terra natal , Paranaguá.

 

10/2/1931 – 10/9/2024 (por Sponholz | blog do Zé Beto)

 

Na famosa Boca Maldita de Curitiba, a de outros tempos, estava sempre no centro de uma roda de veteranos e sagazes frequentadores, aqueles que já estão em outro plano, como Francisco da Cunha Pereira, Anfrisio Siqueira, Mussa José Assis, Carlos Nasser, Nego Pessoa, Odone Fortes Martins, Nuevo Baby, Sylvio Sebastiani, José Maria Pizarro, Abdo Kudry, Newton Dalabona, René Dotti, Sale Wolokyta, Cícero Cattani, Léo de Almeida Neves, Eneas Faria, José Mugiatti, Milton Ivan, Aníbal Khury, Jaime Lerner, Cândido Gomes Chagas, Ali Chaim, Alcidino Pereira, o goleiro Ivan, Brigadeiro Zola Florenzano, Carlos Molina, Aramis Millarch, Paulo Leminski, Reginis Prochmann, Maurício Fruet e os comunistas mais famosos, Amaral, Expedito, Valmor Marcelino, Berek Krieger e tantos outros belos personagens que criaram um território livre de debates e conflitos intelectuais onde o Mazza sempre foi centro das atenções e o maior polemista.

De minha parte, quase vinte anos mais jovem, sou grato pelas lições, pelo aprendizado na escrita e pelos muitos apoios generosos recebidos em minha vida pública, e às vezes algumas críticas duras, naturais para correções de rumos.

Lembro o dia de 1990 em que, como Chefe da Polícia Civil, entreguei pessoalmente ao emocionado amigo Mazza a sua ficha política, que estava secretamente nos arquivos do antigo Dops e trazia os odiosos assentamentos e anotações de inquéritos policiais que resultaram em perseguições em sua carreira funcional como servidor público de carreira. Mazza, como jornalista, me deu muito suporte para a abertura dos arquivos implacáveis que tornei públicos, mesmo com grande resistência de setores radicais das forças armadas que nunca deixaram de atuar nos bastidores, como vimos no 8 de Janeiro, data da tentativa de golpe e do quebra quebra em Brasília.

A grife do nome Mazza era uma forma de elevar o prestígio das redações em que atuava. Assim foi no rádio, nos jornais e nas televisões. E também nas ruas, da cidade sem portas, nas esquinas e nas mesas acolhedoras onde por mais de sete décadas foi ouvido e admirado por muitos milhares de pessoas. Nunca foi uma unanimidade, e fugia disso, pois fazia da polêmica a sua arte, e usava a pena e a voz, peculiar com um tom de rouquidã,o como um florete ou um sabre, a depender da ocasião.

Salve, mestre Mazza. Deixo minha reverência e meu agradecimento pela vida longa e que tanto nos acrescentou.

 

José Maria Correia é colunista do blog do Zé Beto.