Vou dar o meu melhor. Você tem de dar o seu melhor. Ele prometeu dar o seu melhor. É a expressão da moda. Todos estamos “dando o nosso melhor”, e com a maior sinceridade. As sílabas vão se formando na boca sem passar pelo cérebro, cristalizam-se em palavras e, num átimo, estão ditas. Mas é um bom sinal. Significa que estamos querendo fazer direito, seja o que for. Só não está sendo suficiente. O Brasil, apesar de alguns indicadores positivos, continua mais ou menos. Passamos quatro anos com uma laia de gente que só tinha o seu pior para dar, na saúde, na educação, nas instituições. Talvez leve outros quatro só para empatar o jogo, caso em que o melhor, se vier, só virá lá na frente.
Se realmente quisessem “dar o seu melhor”, as pessoas pensariam antes de falar —no mínimo para se certificar de que estão realmente dando o seu melhor. Mas não adianta: “dar o seu melhor” já está no imaginário popular.
Estar “no imaginário” é outra coisa que me intriga. É mais uma expressão favorita de nosso tempo. Quando ouço falar que isto ou aquilo está “no imaginário” de alguém, imagino —perdão— uma pessoa meio apalermada, com os olhos em espiral voltados para o teto, como se uma nuvem daquelas de história em quadrinhos, só que vazia, flutuasse sobre sua cabeça.
O problema é que, muitas vezes, o isso e o aquilo estão no “imaginário popular”, o que me sugere uma população de zumbis nessa condição. Por sorte, o povo brasileiro tem manifestado uma fabulosa resiliência. E aí está outra palavra que só há pouco, sem pedir licença nem dar o seu melhor, entrou no nosso imaginário: “resiliência”. Saltou dos dicionários de inglês para a boca do povo sem passar pela alfândega. Até três ou quatro anos, ninguém jamais a pronunciara. Hoje, é obrigatória.
“Dar o seu melhor”, “imaginário” e “resiliência”. Só há uma maneira de evitar esses clichês ocos: ficar “focado”.
Ruy Castro é jornalista, biógrafo e escritor.