O prematuro falecimento de Luiz Renato Ribas Silva entristeceu-me profundamente. Prematuro?! Aos noventinha?! Sim, porque uma cigana havia garantido que ele chegaria aos 103. Erou por treze. Já não se faz mais ciganas como antigamente…
Fomos companheiros de aventuras editoriais a vida inteira. Desde quando ele me convocou, no início dos anos 60 do século passado, para ajudá-lo a fazer “TV-Programas”, a revistinha de circulação dirigida, com a programação das televisoras locais, que atingiu os 25 mil exemplares por semana, sem atrasar um dia sequer na casa do telespectador. O publicitário paulista Wilson Thomaz chegou a considerá-la a melhor publicação do gênero no Brasil!
Na esteira de “TV-Programas” vieram “Guiatur”, “Directa”, “Bem Bolado”, “Programas” e “Curitiba Shopping”, além das edições especiais de “Quem é Quem na TV”, o primeiro e único anuário da televisão paranaense, e da também pioneira e única “História da Propaganda no Paraná”. Juntos fizemos ainda o primeiro e único “Guia de Filmes em Vídeo” do Paraná.
Luiz Renato era um dínamo repleto de ideias. Tinha o pioneirismo no sangue. Assim foi com a Digital Fotogravura, a primeira empresa a fornecer fotoletras, fotolitos e fotocomposições para o mercado paranaense. E, mais tarde, com o Tape Clube (depois, Vídeo 1), a primeira locadora de vídeos (depois, DVDs) de Curitiba.
Também partiu dele a iniciativa de reunir um extraordinário acervo cinematográfico da memória paranaense, com os depoimentos de personalidades das mais diversas atividades do Estado, o denominado projeto Memórias Paraná.
Rubem Alves definia a vida como a metáfora de uma vela. Luiz Renato Ribas Silva encaixava-se na definição: foi uma vela que se consumiu iluminando. Viveu até os 90 anos e, ao deixar esta vida, não teve do que se queixar. Ele soube viver e a vida foi generosa com ele: plantou árvores, teve filhos, netos e bisneto, escreveu livros, teve amigos e colecionou realizações.
Quer dizer: Luiz Renato Ribas não morreu. Pessoas como ele não morrem jamais. A vida pode mudar de patamar, mas continuará existindo nas realizações que fez e nos descendentes e amigos que deixou.
É ainda de Rubem Alves a afirmação de que “cada poema se inclina para a última palavra e cada canção se prolonga na direção do seu silêncio”. Última “palavra que continua a reverberar todas aquelas que a antecederam; silêncio onde ressoam os sons que o prepararam”.
Luiz Renato Ribas Silva seguiu ao encontro de sua querida Regina e de seus saudosos pais Domingos e Antonina.
O que se pode querer mais?
Célio Heitor Guimarães é jornalista e consultor jurídico aposentado.