A. J. Gevaerd: o mais conhecido ufólogo brasileiro no mundo morreu em 2022, no dia 9 de dezembro (foto: reprodução)
Explorando aleatoriamente a internet, fiquei sabendo com surpresa e profundo pesar do falecimento de Ademar José Gevaerd, o A. J. Gevaerd, na manhã do dia 9 de dezembro [de 2022], na UTI do Hospital do Pilar, em Curitiba, onde ele estava internado após sofrer um acidente doméstico. Tinha 60 anos.
Para quem não sabe, Ademar Gevaerd, maringaense de nascimento, químico, professor e jornalista de profissão, era o mais destacado e respeitado ufólogo do Brasil e o mais conceituado ufólogo brasileiro no mundo, com constantes participações em conclaves internacionais. Tamanho era o seu conceito mundo afora que ele foi nomeado diretor brasileiro da Mutual UFO Network (MUFON), a maior e a mais antiga organização investigativa dos Estados Unidos sobre a questão dos UFOs ou Objetos Voadores Não-Identificados.
Para os mal informados, explico que ufólogo é o pesquisador e estudioso do fenômeno UFO, OVNIs ou discos voadores. Isto é, aquelas coisas que as autoridades e os céticos de plantão dizem não existir (agora, os governos já começam a mudar de ideia), mas que continuam aparecendo nos céus do planeta Terra…
Gevaerd foi um dos primeiros a se dedicar ao assunto, difundi-lo e tratá-lo com seriedade. Lembro-me de um dos primeiros encontros que, ele, juntamente com Rafael Cury, Daniel Rebisso Giese e outros jovens atrevidos, promoveu no auditório da Biblioteca Pública do Paraná. Estive lá.
Depois disso, realizou dezenas de congressos, simpósios e fóruns, a maioria aqui em Curitiba, reunindo a nata da ufologia nacional, como Jaime Lauda, José Victor Soares, Marco Antônio Petit, Claudeir Covo, Irene Granchi, Luiz Gonzaga Scortecci de Paula, Ernesto Bono, Paulo Kronemberg, Gustavo Salik, Walter Buhler, Max Berezowsky, Ricardo Varella, Gilda Moura, Mônica de Medeiros, Ubirajara Rodrigues, Vitório Pacaccini, Edison Boaventura, Antônio Faleiro, Reginaldo Athayde, Alberto Romero, Thiago Ticheti, Philippe van Putton, Wallace Albino, Carlos Alberto Machado, Emmanuel Sanchez, Romio Cury, Eustáquio Patounas, Carlos Alberto Reis, Alcione Giacomitti e tantos outros, alguns já de saudosa memória. Compareci a quase todos.
Dos nomes internacionais, A. J. Gevaerd apresentou ao público brasileiro, entre outros, Budd Hopkins, Witley Strieber, Roger Leir, Nike Pope, Mike Bara e David Jacobs, além de alguns dos mais destacados contatados, como o americano Travis Walton, cuja abdução foi tema do filme “Fogo no Céu” (1993).
Em 1988, ao mudar-se do Paraná para Campo Grande (MS), Gevaerd criou o Centro Brasileiro de Pesquisa de Discos Voadores (CBPDV). Antes disso, em 1985, ainda em Curitiba, lançou a revista “UFO”, que se tornaria a melhor publicação do gênero no Brasil e uma das melhores do mundo, hoje no nº 287.
Gevaerd foi ainda editor de uma série de livros especializados em ufologia, com quase 60 títulos de autores nacionais e internacionais selecionados, e coordenador de uma série de documentários ufológicos em DVD, com 170 títulos, considerados o maior acervo do gênero em língua portuguesa. Em 2021, publicou o primeiro livro de sua autoria, “Agroglifos no Brasil”.
Inúmeros foram as realizações e os episódios pesquisados a fundo por Ademar José Gevaerd. Entre eles, a liberação pelo governo federal brasileiro, em 2013, de parte dos documentos classificados como “secretos” ou “ultrassecretos”, envolvendo Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs).
Ele acompanhou de perto o conhecido incidente de Varginha, em que seres extraterrestres teriam sido capturados pelo Exército Nacional. O trabalho de campo foi feito por Ubirajara Rodrigues e Vitório Pacaccini.
Gevaerd deu também dedicação especial aos agroglifos (ou círculos nas plantações), em que misteriosos desenhos surgem, da noite para o dia, silenciosamente, em lavouras de trigo ou milho, especialmente na Inglaterra, mas também em outros países, inclusive o Brasil, em Ipuaçu, no oeste catarinense.
Mas talvez a mais importante contribuição de Gevaerd para o tema ufológico tenha sido por ocasião da chamado fenômeno “chupa-chupa”, na Ilha de Colares, no Pará, no ano de 1977, em que objetos luminosos eram vistos nos céus e misteriosos jatos de luz projetados sobre as pessoas, extraindo-lhes sangue e causando pânico. O acontecimento exigiu a intervenção da Força Aérea Brasileira, sob o comando do então capitão Uyrangê Bolivar de Hollanda Lima, no que se chamou “Operação Prato”.
O material colhido pelos militares não foi revelado. Até o dia em que Uyrangê Hollanda, já coronel e na reserva, resolveu convocar Ademar Gevaed e Marco Antônio Petit e revelar toda a verdade. Segundo o militar, várias foram as visões de naves, algumas tripuladas, fotografadas e filmadas pela FAB. Revelou também que só de fotografias havia mais de 500, isso sem falar das 16 horas de filmagens (nos formatos Super-8 e Super-16), e um calhamaço de 2 mil páginas de relatórios. E admitiu que sentiu muito medo de ser abduzido.
Ademar José Gevaerd voltara a morar em Curitiba e fará muita falta à ufologia. E não apenas a nacional.
Célio Heitor Guimarães é jornalista e consultor jurídico aposentado.