Célio Heitor Guimarães: comentários ‘provocativos, atrevidos ou pueris, mas sempre sinceros e verdadeiros’

 

Em artigo publicado no blog do Zé Beto na quinta-feira (17/5), o jornalista e ex-assessor jurídico Célio Heitor Guimarães anunciou que prepara o lançamento de um novo livro. A ideia, segundo o autor, é reunir as principais crônicas escritas por ele desde 1998, numa coluna que mantinha no jornal O Estado do Paraná, já extinto. Em dezembro de 2016, Célio Guimarães lançou, juntamente com o jornalista Luiz Renato Ribas Silva, o livro A pequena notável, sobre a história da TV Programas, uma pequena revista semanal que circulava nos primeiros tempos da televisão no Paraná.

Confira, abaixo, a coluna de Célio Guimarães publicada no blog do Zé Beto em 17/5/18.

 


Com licença, excelências

Célio Heitor Guimarães

 

Em meados de 1998, eu mandei um comentário-crítico à conduta da então Diretran – tão ciosa em penalizar os motoristas curitibanos por infrações de trânsito, mas sem nenhuma preocupação em cumprir as suas próprias obrigações – para o “Painel do Leitor”, coluna dedicada às manifestações dos leitores de O Estado do Paraná, jornal dirigido por Mussa José Assis.

Mussa, de quem eu fora colega na sucursal da Última Hora, do Edifício Asa, publicou o comentário em coluna especial. E incentivou-me a continuar mandando-lhe as minhas opiniões. Desencapei a velha Remington, logo substituída pelo teclado do computador, e voltei a enfileirar as letrinhas. E virei cronista do cotidiano ou, mais especificamente, crítico das mazelas dos administradores públicos. Foram treze anos de fiel parceria, sempre aos domingos, na edição de maior tiragem do jornal e maior número de leitores.

Com a aposentadoria de Mussa e o prenúncio do fim da edição impressa do velho O Estado, encontrei abrigo no blog do nosso Zé Beto, um dos mais apreciados e conceituados da imprensa on-line. E aqui estou já há 8 anos, agora às quintas-feiras, sob as bênçãos de mestre ZB.

Treze mais oito, vinte e um, tempo em que foram produzidos mais de mil comentários. Alguns provocativos, outros atrevidos, muitos pueris, mas sempre sinceros e verdadeiros, e todos aprovados pelos editores sem a mudança de uma vírgula sequer, ainda que esta se fizesse necessária. Nesse quesito, considero-me um privilegiado e sou grato a eles pelo apoio e apreço.

A novidade é que esses comentários estão prestes a ser reunidos em livro. Não todos os mil, por certo, mas uma seleção de duzentos – o que levará a edição a perto de 400 páginas. Essa era uma velha ideia do bom amigo e companheiro de ideais Mário Montanha Teixeira Filho, o “Da Montanha”, que elegi presidente do “Grupo dos 15”, universo de leitores dos meus escritos.

– Célio, publique as suas crônicas apaixonadas! Elas seguem uma sequência coerente, resistem à passagem do tempo, retratam pedaços da história contemporânea. As mazelas da política, a arrogância palaciana, a parcialidade da imprensa, entre outros temas, são fatos que merecem ficar registrados em papel mais duradouro do que o jornal” – disse-me, certa feita, o Mário.

A concretização da ideia, no entanto, deve-se a outro ex-companheiro de trabalho e de convicções, o hoje professor Emerson Gabardo, doutor em Direito do Estado, mestre de Direito Administrativo da PUCPR e UFPR e pós-doutor em Direito Comparado pela Fordham University School Law, entre outras coisas.

– Dr. Célio, por que o senhor não publica em livro as suas colunas? – indagou-me ele, algum tempo atrás.

– Ora, porque ninguém teria interesse ou coragem de publicar – respondi-lhe.

Emerson é daquelas pessoas que lá no interior chamávamos de “positivas”, querendo dizer objetivas, práticas, determinadas e de pouca discussão.

– O senhor me entrega os originais e eu me encarrego de achar um editor – replicou ele, emendando: “Agora, tem uma coisa: eu não vou mais lhe falar no assunto”.

Não mandei os originais e ele nunca mais tocou no assunto.

Dez anos depois, em um encontro festivo casual, Emerson voltou ao tema: “E aí, dr. Célio, não vai mesmo publicar os seus escritos?”.

– Você acha que ainda é possível? – inquiri.

– Claro. Mande-me os textos – retrucou.

Desta feita, não me fiz de rogado: selecionei alguns dos meus comentários e encaminhei ao Emerson via internet. Quinze dias depois, ele me convidou para conhecer a editora Eliane Peçanha. Ela se interessara em publicar o material.

Eliane é uma jovem idealista e batalhadora. Numa época em que cada vez se lê menos, ela semeia livros e toca com empenho a sua Editora Íthala, que embora recente na área jurídica, não por acaso, já conta com mais de uma centena de títulos em seu catálogo, edições bem cuidadas, de bom conteúdo, assinadas por autores reputados. Emerson Gabardo é um deles. Com competentes assistentes, Eliane tem a agenda cheia, mas dá conta do recado: do contato inicial com o autor à distribuição da edição pronta e acabada. E oferece uma ótima parceria para os novos autores ou para aqueles que buscavam quem os editasse; tudo feito às claras, com ganhos recíprocos em que se estabelecem, desde logo, as obrigações e os direitos das partes.

Tremei, pois, ó infiéis! Aqueles deslizes e malfeitos dos últimos 20 anos, que pareciam perdidos no esquecimento do tempo, estão prestes a voltar à tona. Preto no branco, sob a chancela da Editora Íthala, prata da casa curitibana.