Uma das manias de (boa parte) dos brasileiros é a macaquice. Macaquice no sentido de macaquear, imitar, copiar. Dou dois exemplos: Halloween e Black Friday. Não temos nada a ver com eles, mas foram indevidamente introduzidos no nosso calendário. E comemorados com desusado fervor.
O Halloween, ou Dia das Bruxas, é uma tradicional festa norte-americana, que acontece no dia 31 de outubro, quando as crianças se fantasiam de monstros e saem à procura de doces. Normalmente, os adultos também aderem às comemorações, e a decoração atinge jardins e residências. Acredita-se que esse festejo tenha surgido de comemorações realizadas pelos celtas em homenagem aos mortos. Denominava-se, então, Samhain, data em que a separação entre o mundo dos vivos e o do mortos deixava de existir. Hoje, é uma das celebrações mais populares da cultura norte-americana, e começa a ganhar força no Brasil. O que o que nós, brasileiros, temos a ver com isso, ninguém sabe ou explica, mas está todo mundo pintando a cara de caveira e expondo-se ao ridículo.
Quanto ao Black Friday, como o nome diz, significa “sexta-feira negra”. A expressão e o evento também surgiram nos Estados Unidos – o nosso tradicional exemplo e principal exportador de manias – no século XIX. Trata-se de um evento comercial, em que os preços dos produtos supostamente sofrem altos descontos. Nos EUA, a data está ligada a um dos mais importantes feriados norte-americanos: o Dia de Ação de Graças, sempre comemorado na última quinta-feira de novembro. Há quem diga que a denominação surgiu no início dos anos 90, na Filadélfia, quando a polícia local chamava de Black Friday o dia seguinte ao feriado, sempre com as ruas cheias de gente e congestionamento de veículos, já que precedia o período de compras para o Natal.
No Brasil, a tal Black Friday começou em 2010 e, salvo preciosas exceções, é uma grande enganação. Em regra, os preços são elevados na véspera e depois reduzidos a valores maiores do que os originais. Quer dizer, a prática fraudulenta é uma constante, com a maquiagem de preços e falsos descontos. E aí, como diz um lúcido amigo meu, o brasileiro corre comprar o que não precisa, com o dinheiro que não tem.
Se uma das tendências do brasileiro é copiar – definida como mimetomania, termo não dicionarizado –, que pelo menos a cópia seja proveitosa, e não mero arremedo de prática externa inadequada ao Brasil. Aliás, a bem da verdade, essa prática faz parte do colonialismo cultural ao qual o brasileiro, desgraçadamente, adora submeter-se. De repente, centro de compras virou shopping; cabelereiro, hair center; farmácia, drugstore; cafeteria, coffe shop; hotel, resort; casa de calçados, shoe shop; comida rápida, fast food; e entrega, delivery. É mais chique, menos provinciano e mais imbecil. O português não sensibiliza, não atrai a freguesia. Mas, em alguns casos, para se descobrir o que a loja comercializa, há que se indagar do estabelecimento.
E lá vamos nós, ladeira abaixo.
Célio Heitor Guimarães é jornalista e consultor jurídico aposentado.